Muita promoção têm feito os bibliotecários sobre o hardware dos equipamentos móveis de acesso a conteúdos (telemóveis, Tablet, Pad, etc) em vez de se concentrarem nos conteúdos. Certamente por estarem preocupados em promover o acesso móvel aos conteúdos, mas é algo que estão a fazer de uma forma apressada e errada.
Hoje em dia é quase impossível ler alguma coisa sobre conteúdos online sem que apareça o título "disponível para o equipamento Y", especialmente se o equipamento for da Apple que tem liderado as modas tecnológicas nesta área.
As empresas entraram neste frenesim e até parece que não ter uma aplicação para iPad e iPhone é como não existir. O certo é que já não se preocupam tanto em disponibilizar conteúdos enquanto tal (possíveis de serem consultados de formas diversas). Preocupam-se em disponibilizar conteúdos no formato de um aparelho móvel específico. Uma empresa já não está disponível online: está disponível na aplicação para iPad, mas não ainda para Android e quem sabe se corre em equipamentos da marca X ou da Z. Podem dizer que isso se deve à necessidade de estar disponível em aparelhos móveis, mas existe aqui um apoio velado a equipamentos.
E o estado?
Se a promoção especial de conteúdos para equipamentos da marca X ainda pode ser percebido relativamente a empresas (disponibilizam o que querem onde querem) o que dizer de instituições públicas? Pode o estado distribuir conteúdos móveis apenas a quem tenha um aparelho X? Ou privilegiar primeiro o equipamento X em grandes anúncios e depois em rodapé dizer que para o Y e Z só daqui a uns tempos?
O estado e as instituições públicas deveriam seguir normas de distribuição não selectiva? Mesmo que isso significa-se mais trabalho, o que na realidade poderia querer dizer demorar mais uns dias! O mesmo sucede no actual acesso online comum quando tal só é possível com o browser X e não como Y!
São aplicações meu senhor!
É uma aplicação (App) para saber o tempo para a minha cidade, é outra para saber a programação do canal de televisão X e outra para o canal Y. Aplicações para mil e uma coisas, desaparecendo a noção de agregação de conteúdos. Apps, Apps! "Eu tenho milhões de Apps e tu?"
O reino das aplicações (e respectivo formato dos conteúdos) instala-se e são elas que determinam o sucesso de um equipamento ou de uma tecnologia. A preocupação que todos devíamos ter agora é saber qual a influência que isso terá no acesso aos conteúdos.
A nova forma de aceder aos conteúdos
No mundo dos equipamentos móveis já não estamos a falar de acesso a conteúdos enquanto tal, mas sim de aplicações que são as mediadoras face aos conteúdos. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente. O conteúdo deixa de ser livre, auditado, social. Passa a ser mediado comercialmente.
A comercialização dos conteúdos sempre existiu - que na internet aberta efectivamente nunca singrou por existirem sempre fontes alternativas - mas avança numa nova direcção que não é boa para os próprios conteúdos e no fundo para os utilizadores com necessidades a longo prazo.
Agora o negócio não será apenas cobrar pelo acesso ao conteúdo mas acima de tudo cobrar pela aplicação que permite o acesso a esses conteúdos (uma variação é disponibilizar a aplicação gratuitamente e cobrar pelo que se utiliza nessa aplicação).
Nada que não se tivesse já tentado antes na altura em que os browsers eram pagos (a Netscape nunca agradecera a Bill Gates o lançamento do Internet Explorer em modelo gratuito!). Só que agora o acesso ao conteúdo fica mesmo mediado a nível específico. Isto tudo para além dos custos das comunicações móveis que são bem mais altos que as fixas!
A distorção das ideias:
O que vai acontecendo é uma distorção do mercado: na hora da compra já não interessa seleccionar as melhores características técnicas de um equipamento mas sim saber qual atraiu mais empresas para criarem aplicações a instalar nesse equipamento. Claro que muitas são gratuitas, mas o baixo preço é a estratégia de outras numa economia de escala. Agora estamos no reino das SCUT. mas muitas já aderiram às portagens virtuais, pois é aí que está o negócio. O curioso é ouvir: mas são só uns cêntimos! Entretanto lembro-me da guerra VHS/BETA e penso que quem ganha não são os melhores tecnicamente mas os que conseguem ser populares. Marketing!
Entretanto muito lixo se promove, aplicações sem utilidade nenhuma ou que disponibilizam exactamente o mesmo que já era possível encontrar no site dessa mesma empresa. . Mas é bom que se perceba que se está frente a um novo paradigma na distribuição de conteúdos. As empresas distribuidoras estão simplesmente preocupadas em cobrar pelos conteúdos e controlar a sua reutilização. Assim consultar e possuir estão a ser separados.
O marketing das sereias
Entretanto muitos vão continuar a fazer download de aplicações para os seus equipamentos móveis de forma a consultar informações simples, quando as podiam consultar directamente de um site na internet. Mas não é tão bonito, não é tão simples, etc.
Um novo paradigma na informação online está a nascer: é o reino das aplicações (Apps) e o fim do reino dos conteúdos em formato livre.
O (en)canto das sereias dirigido a navegadores atraindo-os de encontro a rochedos ocultos, era no fundo uma operação de marketing! Ulisses queria ouvir o canto sem por ele ser atraído: tapou os ouvidos aos seus homens e atou-se ao mastro.
Mas se perdemos a orientação social do conteúdo online como será possível, isolados no nosso iPad, fazer o mesmo que Ulisses hoje?!
Nota: não tenho iPad e neste momento não lhe vejo utilidade mas não estou contra o seu uso. Mas não deixo de estar atento ao que a sua utilização pelas empresas vai fazendo aos conteúdos. É que, como as SCUT, as borlas não duram para sempre!|
Fonte da imagem: http://www.toondoo.com/cartoon/2699845
Hoje em dia é quase impossível ler alguma coisa sobre conteúdos online sem que apareça o título "disponível para o equipamento Y", especialmente se o equipamento for da Apple que tem liderado as modas tecnológicas nesta área.
As empresas entraram neste frenesim e até parece que não ter uma aplicação para iPad e iPhone é como não existir. O certo é que já não se preocupam tanto em disponibilizar conteúdos enquanto tal (possíveis de serem consultados de formas diversas). Preocupam-se em disponibilizar conteúdos no formato de um aparelho móvel específico. Uma empresa já não está disponível online: está disponível na aplicação para iPad, mas não ainda para Android e quem sabe se corre em equipamentos da marca X ou da Z. Podem dizer que isso se deve à necessidade de estar disponível em aparelhos móveis, mas existe aqui um apoio velado a equipamentos.
E o estado?
Se a promoção especial de conteúdos para equipamentos da marca X ainda pode ser percebido relativamente a empresas (disponibilizam o que querem onde querem) o que dizer de instituições públicas? Pode o estado distribuir conteúdos móveis apenas a quem tenha um aparelho X? Ou privilegiar primeiro o equipamento X em grandes anúncios e depois em rodapé dizer que para o Y e Z só daqui a uns tempos?
O estado e as instituições públicas deveriam seguir normas de distribuição não selectiva? Mesmo que isso significa-se mais trabalho, o que na realidade poderia querer dizer demorar mais uns dias! O mesmo sucede no actual acesso online comum quando tal só é possível com o browser X e não como Y!
São aplicações meu senhor!
É uma aplicação (App) para saber o tempo para a minha cidade, é outra para saber a programação do canal de televisão X e outra para o canal Y. Aplicações para mil e uma coisas, desaparecendo a noção de agregação de conteúdos. Apps, Apps! "Eu tenho milhões de Apps e tu?"
O reino das aplicações (e respectivo formato dos conteúdos) instala-se e são elas que determinam o sucesso de um equipamento ou de uma tecnologia. A preocupação que todos devíamos ter agora é saber qual a influência que isso terá no acesso aos conteúdos.
A nova forma de aceder aos conteúdos
No mundo dos equipamentos móveis já não estamos a falar de acesso a conteúdos enquanto tal, mas sim de aplicações que são as mediadoras face aos conteúdos. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente. O conteúdo deixa de ser livre, auditado, social. Passa a ser mediado comercialmente.
A comercialização dos conteúdos sempre existiu - que na internet aberta efectivamente nunca singrou por existirem sempre fontes alternativas - mas avança numa nova direcção que não é boa para os próprios conteúdos e no fundo para os utilizadores com necessidades a longo prazo.
Agora o negócio não será apenas cobrar pelo acesso ao conteúdo mas acima de tudo cobrar pela aplicação que permite o acesso a esses conteúdos (uma variação é disponibilizar a aplicação gratuitamente e cobrar pelo que se utiliza nessa aplicação).
Nada que não se tivesse já tentado antes na altura em que os browsers eram pagos (a Netscape nunca agradecera a Bill Gates o lançamento do Internet Explorer em modelo gratuito!). Só que agora o acesso ao conteúdo fica mesmo mediado a nível específico. Isto tudo para além dos custos das comunicações móveis que são bem mais altos que as fixas!
A distorção das ideias:
O que vai acontecendo é uma distorção do mercado: na hora da compra já não interessa seleccionar as melhores características técnicas de um equipamento mas sim saber qual atraiu mais empresas para criarem aplicações a instalar nesse equipamento. Claro que muitas são gratuitas, mas o baixo preço é a estratégia de outras numa economia de escala. Agora estamos no reino das SCUT. mas muitas já aderiram às portagens virtuais, pois é aí que está o negócio. O curioso é ouvir: mas são só uns cêntimos! Entretanto lembro-me da guerra VHS/BETA e penso que quem ganha não são os melhores tecnicamente mas os que conseguem ser populares. Marketing!
Entretanto muito lixo se promove, aplicações sem utilidade nenhuma ou que disponibilizam exactamente o mesmo que já era possível encontrar no site dessa mesma empresa. . Mas é bom que se perceba que se está frente a um novo paradigma na distribuição de conteúdos. As empresas distribuidoras estão simplesmente preocupadas em cobrar pelos conteúdos e controlar a sua reutilização. Assim consultar e possuir estão a ser separados.
O marketing das sereias
Entretanto muitos vão continuar a fazer download de aplicações para os seus equipamentos móveis de forma a consultar informações simples, quando as podiam consultar directamente de um site na internet. Mas não é tão bonito, não é tão simples, etc.
Um novo paradigma na informação online está a nascer: é o reino das aplicações (Apps) e o fim do reino dos conteúdos em formato livre.
O (en)canto das sereias dirigido a navegadores atraindo-os de encontro a rochedos ocultos, era no fundo uma operação de marketing! Ulisses queria ouvir o canto sem por ele ser atraído: tapou os ouvidos aos seus homens e atou-se ao mastro.
Mas se perdemos a orientação social do conteúdo online como será possível, isolados no nosso iPad, fazer o mesmo que Ulisses hoje?!
Nota: não tenho iPad e neste momento não lhe vejo utilidade mas não estou contra o seu uso. Mas não deixo de estar atento ao que a sua utilização pelas empresas vai fazendo aos conteúdos. É que, como as SCUT, as borlas não duram para sempre!|
Fonte da imagem: http://www.toondoo.com/cartoon/2699845
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